sábado, 30 de outubro de 2010

Parabéns Diego Maradona e obrigado por tudo...



Malandro com a mão, genial com os pés, Maradona completa hoje 50 anos. Foi, talvez, o maior talento de sempre do futebol. Há mais de 30 anos, quando apareceu, dizia-se que era uma mistura de Pelé, Garrincha, Cruyff e Didi. O tempo encarregou-se de desvirtuar essa comparação. Maradona foi, simplesmente, Maradona. As palavras podem ajudar a descrevê-lo, mas não o definem.


Maradona não foi só um jogador de futebol; ele é uma personagem da história mundial do final do século XX. Um homem cuja vida nos deixa uma complexa memória e diferentes emoções. Umas vezes Diego, outras Maradona.

Com a bola, um génio. Maradona tinha tudo: intuição, criatividade, rara capacidade de executar mais depressa do que todos os outros; para ele, jogar e pensar faziam-se num único instante. Umas vezes imprevisível, outras científico. Mas sempre um inventor. A bola nunca lhe reservou um único segredo. Ou melhor: não ficou um único para Maradona desvendar. Mas Diego confundiu tudo.

O jogo com a vida e a vida com o jogo. Para ele, driblar ou rematar ou passar não era mais difícil do que respirar. Desfez padrões e criou conceitos. Para ele, tudo parecia tão simples, tão fácil, que talvez nunca tivesse tido a medida exacta da importância do que fazia. Dentro ou fora dos relvados. Porque confundiu tudo. Como num livro de banda desenhada. Com uma diferença apenas: Maradona era e é todos os personagens. O herói e o vilão, o sedutor e o traído, o mágico e o rebelde; ele representa o sonho e a desilusão. Levado em ombros pela multidão numa quente tarde de Junho de 1986 no Estádio Azteca, no México, ou entrando num carro com a cara meio tapada e acompanhado pela polícia numa noite fria de Abril de 1991, em Buenos Aires.

Para Diego sempre foi fácil jogar futebol. Entroncado, misto de homem-borracha e encantador de serpentes, corpo pequeno, homem capaz de passar, num instante, do sublime ao grotesco. Peito de pombo, inchado, parecendo poder rebentar a qualquer instante. Maradona requebrava as pernas, olhava o adversário nos olhos e avançava sobre eles. Ninguém podia prever o que o seu pé esquerdo faria, sempre inventando soluções arriscadas para os problemas mais insolúveis. Tanto marcava de livre directo ou de pontapé de bicicleta, como elaborava um passe rasgado que surpreendia tudo e todos. Sublime.

Mil vezes caiu no fundo. Sempre cada vez mais baixo, sempre amante da cocaína, sempre dormindo com a loucura. Tão depressa parecendo querer encontrar-se com Deus como agarrar-se ao Diabo. Renasceu mil vezes. Sempre novo, sempre emocionante, sempre encantador. Amou e odiou, foi amado e odiado. Mil vezes o salvaram, mil vezes decidiu que queria continuar a destruir-se. Fenómeno desportivo e social, talvez um dos poucos exemplares vivos onde podem estudar-se, ao pormenor, os efeitos que a sociedade pode provocar num homem. Um dos mais extraordinários desdobramentos de personalidade da história do desporto, como referiu Jorge Valdano, campeão do Mundo, como ele, em 1986.

Espécie de personagem de um tango de Gardel, de um descamisado de Evita, revolucionário como Che e adepto da vertigem como Fangio, todos argentinos como ele. Em vez de mistura de Pelé, Garrincha, Cruyff e Didi, Maradona talvez tenha sido complexa solvência de Gardel, Evita, Guevara e Fangio. Terá chegado a um estado irreversível de degradação cerebral, fruto da cocaína, das orgias e da falta de suporte no crescimento como ídolo da Argentina e do Mundo. Para deixar a droga era preciso lutar e Maradona raramente lutou por alguma coisa, pois tudo lhe foi dado por Deus. Que recordar quando ele morrer? A arte de brincar com uma bola ou a vida no limiar do risco? A resposta surge com uma outra pergunta: será que de Picasso recordaremos para sempre a forma de viver?



Currículo

Nome: Diego Armando Maradona

Data de nascimento: 30 de Outubro de 1960

Altura: 1,66 metros

Peso: 74 quilos

Local de nascimento: Lanús (Argentina)

Estado civil: casado (com Claudia Roxana Villafane)

Filhos: Dalma Nerea, Giannina Dinirah e Armando (de uma relação extraconjugal com a italiana Cristiana Sinagra)

Pais: Diego Maradona e Dalma Salvadora Franco

Irmãos: Ana, Rita, Elsa, Rosa, Raul, Hugo e Claudia

Posição: médio de ataque

Alcunhas: El Diego, Pelusa, El Diez, El Gordito, El Pibe

Período de actividade: 1975/1997

Percurso como jogador: Argentinos Juniors (1976/1981), Boca Juniors (1981/82; 1995/1997), Barcelona (1982/84), Nápoles (1984/1991), Sevilha (1992/93) e Newell’s Old Boys (1993/94)

Selecção argentina: 91 jogos, 34 golos

Principais títulos conquistados: campeão do mundo de seniores (México-1986), vice-campeão do mundo de seniores (Itália-1990), campeão do mundo de juniores (Japão-1979), campeão italiano (1986/87 e 1989/90), campeão argentino (1981), Taça UEFA (1988/1989), Taça do Rei de Espanha (1982/83), Taça de Itália (1986/87), Supertaça italiana (1989/90) e Taça Artemio Franchi (1993)

Principais títulos individuais: melhor marcador do campeonato italiano (1988), melhor marcador do torneio metropolitano argentino (1978, 1979 e 1980) e melhor marcador do torneio nacional argentino (1979, 1980 e 1981)

Percurso como treinador (dupla com Carlos Fren): Mandiyú de Corrientes (1994),Racing Club (1995) e Selecção da Argentina (2008 a 2010)

Sem comentários:

Enviar um comentário